Britannic

Britannic – Sucessor do trono do Titanic

A Classe Olympic quando foi lançada pela White Star Line em 1908 tinha como principio oferecer os maiores, mais caros e mais luxuosos navios do mundo, era composto por três navios sendo o RMS Olympic e o RMS Titanic os primeiros onde conseguiram fazer uma revolução na arquitetura naval, com um estilo mais clean e moderno e principalmente pelo luxo de suas instalações. A ideia do Britannic era ser o terceiro e mais suntuoso navio da companhia, com o propósito de impressionar mais ainda os passageiros.

Acima a ilustração de divulgação da White Star Line sobre a sua nova frota de navios.

Os navios da Classe Olympic ganharam fama por serem navios espaçosos, arejados e acima  tudo luxuosos, a White Star Line queria explorar o luxo e o conforto para que os passageiros pudessem desfrutar do melhor durante a viagem, com serviços inovadores como os Banhos Turcos, Ginásio, Restaurante Á la Carte, e uma tripulação preparada para atender a qualquer desejo dos passageiros. Até mesmo as acomodações da terceira classe eram consideradas de alto padrão compradas as de certos navios da época.

O RMS Olympic em data não definida

O RMS Olympic logo ganhou fama e prestigio com sua viagem inaugural em 14 de junho de 1911, a White Star Line imaginava mais prestigio ainda com a viagem inaugural do melhorado RMS Titanic, que superou o Olympic em tamanho e em peso com 10 cm mais cumprido e com 1000 toneladas mais  pesado. O Titanic e o Olympic eram praticamente eram o mesmo navio com diferenças mínimas, como o Deck A de passeio e distribuição dos ambiente do Deck B.

O Rms Olympic e o RMS Titanic em 1911

Conheça nossa postagem Diferença do Titanic para seus irmãos

Após a trágica madrugada de 15 de abril de 1912 onde o RMS Titanic pereceu junto com 1523 vidas, a White Star Line passou por uma das piores fases da companhia, já que o Titanic naufragou em sua viagem inaugural, assustando os possíveis novos passageiros. O projeto do RMS Gigantic foi completamente modificado e o mesmo teve seu nome alterado para RMS Britannic sendo o segundo navio da companhia a ostentar o nome, pois a White Star Line estava com receio que seu novo gigante fosse perdido da mesma forma. Os nomes dos navios foram escolhidos em virtude da grandiosidade do projeto da White Star Line, Olympic veio dos Deuses do Olimpo, Titanic dos Titãs da Mitologia Grega e Gigantic já que era para ser o maior de todos os três.

Acima a apresentação do Britannic em 1914, e ao seu lado em comparação com o modelo do primeiro navio da White Star Line com o nome Britannic de 1874.

Os planos da White Star Line era para que o RMS Britannic fosse mais luxuoso que seus antecessores com o objetivo de competir com os recém lançados SS Imperator (Hamburg America Line), SS Vaterland (United States Line) e o RMS Aquitania (Cunard Line), para isso foi mantida as dimensões dos seus irmãos com 28,7 m de largura, 58 m de altura e 269,10 m de comprimento, o mesmo comprimento do Titanic.

Projetado para acomodar até 2.579 passageiros divididos em três classes, a White Star Line estava antecipando uma provável mudança de sua clientela e decidiu reduzir o tamanho da terceira classe que era destinada principalmente aos imigrantes e aumentando a capacidade da segunda classe, pois após estudos feitos no Titanic e no Olympic foi constatado que a segunda classe era a mais frequentada pela classe média. Para atender aos passageiros com o padrão White Star Line foram requisitados 950 pessoas para compor a tripulação, enquanto que no Olympic e no Titanic eram entre 860 e 880 tripulantes.

O Britannic em data não definida

Quando a noticia do naufrágio do Titanic foi confirmada em 18 de abril de 1912 a White Star Line logo planejou uma série de modificações no projeto do Britannic, para que o navio ficasse mais robusto e com isso passasse mais segurança, evitando o medo dos passageiros, para isso foram feitas uma série de melhorias em todas as partes do navio, como no sistema de portas de lastro, o acréscimo do casco duplo para dificultar possíveis inundações, o reforço nos rebites do casco em regiões consideradas mais vulneráveis, o acréscimo de anteparas aprova d’água alcançando até o Deck B, o aumento do número de botes salva-vidas para acomodar todas as pessoas a bordo entre passageiros e tripulação, essas foram algumas das várias alterações que o Britannic sofreu no período Pós Titanic.

Crédito: Desconhecido

Acima o Britannic em fase final de construção, onde estavam sendo instaladas as enormes chaminés.

Não era só o Titanic ou o Olympic que não levava botes para todos a bordo mais sim todos os navios da época, pois as leis marítimas eram bem claras que navios desse porte deveriam levar 16 botes salva vidas, o projeto da Classe Olympic contava com 20 botes de madeira e  04 botes desmontáveis. Após a tragédia do Titanic as leis foram revistas e todos os navios eram obrigados a levar botes para todos a bordo inclusive a tripulação. Conheça mais sobre o Mundo Pós Titanic aqui.

Ilustração de divulgação da White Star Line sobre o RMS Britanic

Sobre o interior do Britannic existem poucos registros, apenas algumas raras ilustrações que a White Star Line usou para a divulgação do navio. Não existem fotos originais do interior do Britannic já que o mesmo nunca foi utilizado como navio comercial, além dessas ilustrações foram encontradas as plantas baixas de todos os decks do Britannic e com isso podemos observar que o interior era completamente diferente em relação ao Titanic e ao Olympic. A primeira classe teve suas instalações melhoradas em todos os aspectos com a ampliação dos salões públicos, e com o fim de alguns serviços como o Café Parisien. As crianças que antes eram vistas como um problema, começaram a ser consideradas clientes a serem conquistados, para isso foi criada uma Sala de Jogos que ficava ao lado do Ginásio no deck superior.

Nas imagens acima podemos ver a planta do Deck B do Britannic onde o Café Parisien foi removido, como também foi inserido um novo ambiente que era o salão de recepção do Restaurante À la Carte, onde os passageiros aguardavam a sua mesa ou simplesmente tomavam um drink. A segunda imagem é do salão de recepção do Restaurante À la Carte do Olympic após as várias reformas que o mesmo sofreu durante os seus 25 anos de serviço.

Acima a comparação do Deck Superior do Britannic com o do Titanic, a distribuição era a mesma, sendo a única diferença o acréscimo da Sala de Jogos para as crianças, o acesso ao ambiente era o mesmo do Ginásio, pela Escadaria de Proa.

Escadaria de proa do Titanic. Crédito: Titanic In Color.

No Olympic e no Titanic, as instalações e acomodações da primeira classe eram conectadas por duas grandes Escadarias, que eram as estruturas mais sólidas do navio, porém a do Britannic era ainda mais suntuosa, além da emblemática cúpula de vidro, as balaustradas com as guirlandas de bronze douradas ficaram mais arredondadas, um órgão de tubo alemão foi acrescentado no Deck A (porém nunca instalado), o famoso relógio com a Glória e Honra foi removido em seu lugar ficou uma pintura, os elevadores que antes só alcançavam até o Deck A, agora chegavam até o Deck Superior.

Comparação da Escadaria do Titanic (esquerda) com a do Britannic (direita). Crédito: Titanic In Color.

Acima outras ilustrações da Escadaria do Britannic, onde podemos observar a diferença em relação ao mesmo modelo do Titanic.

Conheça nossa postagem sobre a Escadaria aqui.

Como podemos ver acima o Deck A era exclusivo da primeira classe, era onde ficavam o principais salões públicos do navio como o Lounge, Sala de Leitura, Salão de Fumo e o Palm Court Café, nesse Deck houve apenas duas alterações.

A primeira foi a redução do tamanho do Salão de Fumo por causa do acréscimo da sala técnica, para compensar a perda de espaço, os engenheiros acrescentaram uma doma de vidro semelhante a da Escadaria bem ao centro do salão para aumentar significantemente a altura do teto e assim passar a sensação de espaço.

A ilustração acima era a esboço do Salão de Fumo do Britannic divulgado pela White Star Line, pela ilustração é possível observar o acréscimo da cúpula de vidro ao centro do salão bem diferente do estilo de decoração do Salão de Fumo dos antecessores.

No destaque em vermelho acima podemos ver a área que foi removida do Salão de Fumo, perdendo parte da lateral, outra alteração no salão foi o acesso aos dois salões do Palm Court Café ao contrário do Titanic que só possuía acesso pelo lado de bombordo (esquerdo).

Sala de Leitura do RMS Olympic

A Sala de Leitura foi a segunda alteração do Deck A, onde a alcova lateral foi removida para dar lugar a mais cabines de primeira classe, devido a não utilização do ambiente no Olympic e no Titanic pelos passageiros, pois os mesmos preferiam o Lounge.

Na planta baixa do Deck A do Titanic (acima) podemos ver a localização da Sala de Leitura do, o destaque em amarelo era a alcova lateral que foi removida e transformada em mais cabines de primeira classe junto com a área do destaque em vermelho.

Uma das grandes novidades do Britannic foi a criação de uma área dedicada à beleza e a aparência, implantada no Deck B, com um barbeiro, salão de beleza e salão de manicure.

Um registro raro do RMS Olympic sobre o Salão de Beleza acrescentado após as várias reformas que navio passou, possivelmente o Salão de Beleza do Britannic seguiria o mesmo padrão, porém não existem registros oficiais sobre o assunto. O Titanic e o Olympic quando foram lançados só contavam com um barbeiro voltado mais para os homens, a ideia do Salão de Beleza era agradar as senhoras da primeira classe.

O Titanic e o Olympic já foram revolucionários por oferecerem banheiros individuais nas Cabines de primeira classe do Deck B e C, mais no Britannic os banheiros individuais foram implantados em quase todas as cabines da primeira classe, sendo o primeiro navio da história a ter essa característica, anteriormente, os passageiros tinham que usar banheiros e sanitários coletivos que ficavam nas extremidades dos corredores das Cabines.

A planta baixa acima mostra a divisão do Deck B do RMS Titanic onde ficavam as Cabines mais caras do navio que ofereceram 08 estilos diferentes de decoração e banheiro privativo, na imagem ainda podemos ver a localização dos banheiros coletivos que ficavam nas extremidades dos corredores das cabines.

A piscina do Britannic teve sua decoração mais ornamentada, pois no Olympic e no Titanic eram ambientes mais simples, já que eram um teste que a White Star Line estava apostando visando conquistar aos passageiros com opções de lazer.

A ilustração a cima foi usada como divulgação do Britannic pela White Star Line e na imagem a direita a piscina do Titanic e do Olympic.

A segunda e a terceira classe também foram reprojetadas, a segunda classe contava com um ginásio, e a terceira classe com um Deck de passeio coberto semelhante ao Deck A da primeira classe. O Salão de Fumo da terceira classe subiu um deck possibilitando a vista do mar.

No destaque em vermelho acima, podemos ver a localização do Deck de passeio coberto da terceira classe, a nova ideologia da White Star Line em aguardar a todos os passageiros.

O novo mecanismo de botes salva-vidas foi a mais notável alteração em relação aos antecessores, como podemos ver na imagem acima os turcos poderiam levar mais botes salva-vidas sem ocupar todo o Deck Superior, já que essa era uma das preocupações da White Star Line para não afetar a estética do navio, outro ganho foi que a segunda e a terceira classe teria acesso direto ao deck dos botes, algo que não aconteceu durante o naufrágio do Titanic. Abaixo vemos o Britannic após a conclusão.

Crédito: titanic-in-color

O comissionamento foi interrompido pelo início da Primeira Guerra Mundial, com isso a equipagem do navio foi paralisada e em 13 de novembro de 1915, o Britannic foi requisitado pelo Almirantado Britânico para transportar soldados e feridos como navio hospital, junto com o seu irmão mais velho o Olympic que seria navio de tropas. Com isso o Britannic nunca foi utilizado em rotas comerciais, todos os seus ornamentos e itens de decoração nunca foram instalados mais sim armazenados nos depósitos da White Star Line durante sua conversão para navio hospital. Em virtude do recrutamento o Britannic perdeu o sufixo RMS (Navio do Correio Real – Traduzido) e passou a utilizar o HMHS (Navio Hospital de sua Majestade – Traduzido) e foi pintado de branco com cruzes vermelhas como vemos no registro abaixo.

Crédito: ColinTheP6M (Deviantart)

Devido a transformação improvisada e acelerada acabou implicando em problemas com os botes salva-vidas, somente cinco dos oito turcos gigantes tiveram tempo de serem instalados. Esses turcos foram fixados na parte central do convés superior, com dois deles também sendo colocados no convés da popa, podendo acomodar 58 botes contra 20 do Titanic e do Olympic.

Crédito: HerrHans (Deviantart)

O navio tinha espaço suficiente para acomodar 3.309 pacientes, mais tripulantes, médicos e enfermeiros, fazendo com que o total de pessoas abordo chegasse a 4.473, mais de mil a mais do que em serviço comercial. Sua capacidade era tal que várias balsas eram necessárias para embarcar e desembarcar pacientes. O Britannic mesmo assim ficava atrás do HMHS Aquitania que conseguia acomodar até 4.200 pacientes.

HMHS Aquitania (Cunard Line)

O Britannic sofreu mais alterações para poder se tornar um navio hospital, principalmente mudanças visuais. Embora sua construção estivesse praticamente concluída, seu casco foi pintado totalmente de branco com uma listra verde e três cruzes vermelhas de cada lado iluminadas por lâmpadas. Em seu interior, 3.309 camas foram instaladas, as áreas comuns dos decks superiores foram transformadas em quartos para os feridos, as cabines do deck B foram adaptadas para alojar os médicos enquanto o Salão de jantar e o Salão de Recepção da primeira classe no deck D foram transformados em salas de operação.

Acima a comparação do visual do Britannic antes e após o comissionamento.

Sabe-se muito pouco sobre o interior do Britannic como navio hospital, existindo pouquíssimos registros. Dormitórios foram construídos no maior número possível em cada espaço disponível, as áreas de passeio do Deck B foram transformadas em acomodações para oficiais feridos. Os salões foram transformados em refeitórios, a piscina de água salgada que fazia parte dos Banhos Turcos no Deck F permaneceu funcionando para que a tripulação se exercitasse. Nas pesquisas feitas foi encontrada uma suposta foto da Escadaria do Britannic durante o seu período como navio hospital sem a decoração que conhecemos, porém essa registro não foi confirmado.

Um registro raro encontrado foi a foto acima onde mostra três enfermeiras no que tudo indica na Escadaria do HMHS Britannic, porém não foi comprovada a veracidade desse registro.

Conheça nossa postagem sobre a Escadaria do Titanic aqui.

O HMHS Britannic sendo abastecido pelas balsas com feridos, soldados e mantimentos.

Após várias viagens levando tropas e feridos o Britannic começou a sexta viagem em 12 de novembro de 1916, com destino a Mudros sobre o comando do Charles Bartlett. A travessia começou sem problemas e o Britannic fez uma escala de 48h em Nápoles por causa de uma tempestade, retornando em seguida ao seu percurso através do mar Egeu. 

              

O Britannic sofreu uma explosão por volta dàs 8h12min do dia 21 de novembro de 1916 enquanto passava pelo canal entre as ilhas de Kea e Makronisos, abrindo um enorme buraco no lado estibordo de seu casco. A equipe hospitalar estava na sala de jantar tomando o café da manhã no momento da explosão e em seguida a tripulação providenciou a evacuação do navio. A explosão abriu um buraco nos compartimentos 3 e 4, e também danificou os compartimentos adjacentes. O corredor de ligação da sala da caldeira 6 com os alojamentos também foi inundado, fazendo com que a água entrasse nas caldeiras. Estima-se que em apenas alguns minutos mais de dez mil toneladas de água já haviam entrado no Britannic, em comparação, demorou quase uma hora para a mesma quantidade de água entrar no Titanic^.

              

As comportas estanques foram acionadas, porém aquelas situadas na sala da caldeira 6 não funcionaram, provavelmente por terem sido danificadas na explosão; mesmo assim o navio teoricamente ainda poderia permanecer flutuando pois seu projeto permitia que até seis compartimentos ficassem inundados, entretanto, o problema foi que várias das janelas e escotilhas do Britannic foram abertas durante a viagem para poder arejar a embarcação, assim a água conseguiu entrar pelas mesmas e inundar compartimentos que haviam ficado intactos, fazendo com que o processo do naufrágio fosse mais acelerado.

Um sinal de socorro SOS foi enviado imediatamente para todas embarcações próximas, o cruzador HMS Scrouge mudou seu curso para ir ao resgate do Britannic. O capitão Bartlett não tinha conhecimento da inundação da caldeira e subestimou os danos, decidindo levar o navio para a praia da ilha de Kea e ordenando que as máquinas entrassem em ré. Ele conseguiu virar a embarcação, porém isso acabou acelerando a entrada de água.

                

A evacuação continuou em ordem, mas com algumas exceções: no lado bombordo um dos oficiais conseguiu manter a disciplina e evitar que uma multidão superlotasse um dos botes, enquanto um grupo indisciplinado tomou a iniciativa de ir lançar os botes no convés da popa. Rapidamente o Britannic ficou deserto, com o último bote sendo lançado às 9h. Bartlett permaneceu abordo decidido a salvar o navio a todo custo. Ele tentou religar as máquinas na esperança de alcançar a ilha de Kea, porém desistiu quando viu a proa quase totalmente submersa.

O capitão foi o último a abandonar o navio, pulando da ponte e nadando até conseguir entrar em um dos botes. Enquanto a popa se erguia para fora d’água a proa bateu no fundo do mar, pouco mais de cem metros abaixo. O Britannic adernou completamente para estibordo e desapareceu da superfície às 9h07min.Das 1125 pessoas abordo, 30 morreram e 45 ficaram feridas.

               

Os destroços do Britannic foram encontrados em 3 de dezembro de 1975 pelo explorador francês Jacques-Yves Cousteau, estando localizado nas coordenadas 37° 42′ 05″ N 24° 17′ 02″ e apenas 120 m da superfície.O Britannic é o maior navio naufragado do mundo. Ele repousa em seu lado estibordo, impossibilitando medir diretamente a extensão dos danos causados pela explosão.

Como o Britannic naufragou durante a guerra nunca tendo servido comercialmente como navio de passageiros, além de ter tido poucas vítimas, ele nunca atraiu o mesmo interesse e entusiasmo que o Titanic. Ele logo foi esquecido pelo público, com sua fama voltando apenas depois da descoberta de seus destroços. Além disso, seu nome seria reutilizado em 1930 pela White Star Line no MV Britannic que foi o último navio da empresa, que em 1934 foi comprada pela Cunard Line.